O Cabo de Santo Agostinho, avistado por Pinzon em 20 de fevereiro de 1500
O NAVEGADOR PINZON, O PORTO DE SUAPE E O DESCOBRIMENTO DE PERNAMBUCO
Francisco Bonato Pereira
A História do Brasil, escrita a partir da ótica do colonizador lusitano, reconhece como data do descobrimento do nosso país a 22 de abril de 1500, data em que o nave-gador português Pedro Alvares Cabral, no comando da frota exploratória com destino à India, chegou ao litoral sul da Bahia, na região onde hoje está situada o distrito da Coroa Vermelha, municipio de Porto Seguro, defronte do monte chamado de Pascoal (porque era dia da Páscoa) e onde frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa (campal) no Brasil.
Essa afirmação é um grande equívoco porque o descobrimento do Brasil, isto é, a chegada do primeiro navegador europeu à costa do Brasil ocorreu em Pernambuco, no Porto de Suape, quando chegou aqui o navegador espanhol Vicente Yanez Pinzón e tomou posse da terra e nome dos seus soberanos.
1. Pinzón no Cabo de Santo Agostinho (20.02.1500).
Vicente Yanez Pinzón, um dos companheiros de Cristovão Colombo, parte do porto de Palos, na Espanha, no comando da flotilha de quatro navios Pinta, Nina, Fraila e a Vicente Yanez, em principio de dezembro de 1499, passa pelas ilhas Canárias,de Cabo Verde, chegando a Ilha de Santigo a 13 de janeiro de 1500 . Navegando umas trezentas leguas, cruzou o Equador, pela primeira vez nos registros de navegação e dirigiu a proa dos navios para oeste, seguindo uma corrente maritima por cerca de duzentas e quarenta leguas, até avistar no horizonte um ponto de terra, no dia 20 de fevereiro de 1500 . “Era o Brasil! Tinham em frente um promontório elevado, que deixava ver em seus flancos terra imensas, que se perdiam de vista. Era Pernambuco !”.
Pinzón dirigiu os navios para a terra que descobrira e, após reconhecer a costa, os fez ancorar em“porto abrigado e de fácil entrada a pequenas embarcações de 16 pés de fundo”, o porto da enseada mais tarde foi denominada de Suape, situada na encosta sul do Cabo de Santo Agostinho . O promontório avistado, situado a 8º de latitude austral (8º17’12” sul), recebeu de Pinzón a denominação de Santa Maria de la Conso-lacion, com expressão de regozijo por haver sua expedição chegado a bom termo.
2.A posse da terra em nome dos reis de Castela e Leão.
Na manhã de 21 de fevereiro de 1500 Pinzón desembarcou acompanhado dos escrivães régios e das testemunhas necessárias para a formalização do ato solene de posse das terras descobertas, em nome das coroas de Castela e Leão, levantando marco de terra, cortando árvores, bebendo água e fixando cruz no solo, e em seguida lavrando o curioso auto de posse, que assinou com as testemunhas presentes :
Eu, Vicente Yanez Pinzón, vassalo dos muito altos e poderosos Reis de Castela e Leão, vencedores do bárbaros e infieis, e seu embaixador e capitão, vos notifico e faço saber, munido de plenos poderes a mim conferidos, que Deus nosso Senhor, que é eterno, criou os ceus e a terra, assim como a o homem e a mulher, dos quais descen-demos nós e vós outros, e todos os mais homens que existiram, existem e hão de exis-tir até o fim do mundo. (...) Deus nosso Senhor confiou o cuidado de todas as nações a um homem que se chamava Pedro, ao qual alevantou por Senhor e cabeça de todo o genero humano, a fim de quelhe rendessem obediencia, sem escolha do lugar que nascessem, ou de religião, em que fossem doutrinados, submetendo a este intento a terra inteira à sua jurisdição, e ordenando-lhe de assentar sua residencia em Roma, que emverdade é o lugar mais azado para a governança do mundo. E por igual lhe prometeu e conferiu o poder de dilatar e estender a sua autoridade por todas as partes do mundo. E, por igual lhe prometeu e conferiu o poder de dilatar e estender a sua autoridade por todas as partes do mundo, onde mais quizesse, e de avassalar e julgar todos os cristãos, ouros, judeus, idólatras e quaisquer outros povos de qualquer serita ou crença que ser pudesse. A este foi dado o nome de Papa, que tanto monta quer dizer admirável, grande pai e tutor, sendo que com efeito é o pai e regedor de todos os homens. Os que viveram no tempo deste sapientissimo padre e confessavam por seus rei e senhor, e como a tal, lhe obedeciam, transmitindo-se estas obediencia aos que lhe sucederam no pontificado, como ainda hoje e continuará ate a consumação dos séculos.
E por um destes soberanos pontifices, como senhor universal da terra, fez mercê e adoação destas ilhas e da terma firme do oceano a suas Majestadas Católicas, os serenissimos reis de Castela, d. Fernando e da. Isabel, de gloriosa memória e seus sucessores, com tudo quanto nela se achasse, como tudo que vem expresso como tudo vem expresso nos autos que vos serão mostrados. Assim é que, e em virtude da sobredita doação, S. M. Rei e senhor destas ilhas e da terra firma, sendo que por tal o aclamaram e reconhecram as mais ilhas a quem se deu conhecimento dos ditos autos e titulos, e nessa qualidade de seu senhor legitimo que é, rendem preito e homensagem, de muito bom grado, e sem nenhuma oposição. (...)
Concluida a cerimônia, retornou Pinzón com seus oficiais para bordo dos navios, onde passaram a noite. No dia seguinte – 22 de fevereiro – acompanhado de quarenta homens fortemente armados, e deixando o restante da tripulação de sobreaviso, Pinzón desceu nome à terra, procurando fazer contatos com nativos de extraordinaria estatura, que se aproximaram, uns a pé e outros em canoas. Os acenos e gestos dos espanhós, exibindo objetos, como espelhos, não lhes atraiu a menor atenção. Percebendo Pinzón que a atitude dos nativos era quase hostil, embarcou nos seus navios e no dia 23 os dirigiu para o Norte, explorando a costa, chegando ao rio Amazonas, que chamou de Mare Dulce (mar doce), ancorando numa ilha e estabelecendo contato com os nativos da região. Em seguida Pinzón retornou à Europa, passando pela Ilha Isabela, chegando ao porto de Palos a 30 de setembro de 1500, levando carga de pau-brasil e nativos do Amazonas, que reduziu a escravidão, além de especiarias e pedras preciosas.
Embora a expedição de Pinzón, economicamente, tenha sido irrelevante, cabe-lhe a glória da descoberta do nosso país.
O Porto de Suape em 2010 (510 anos depois)
3.A revisão da História.
A revisão da história do Brasil, quanto ao descobrimento do Brasil, tem sido defendida por historiadores brasileiros de renome nacional, entre os quais se incluem Francisco Adolfo Varnhagem e Max Justo Guedes, tem defendido o ponto de vista esposado por Pereira da Costa desde o inicio do Seculo XX, quando escreveu os Anais Pernambucanos, defendendo a primazia de Pinzón sobre Cabral. Todavia estes pesquisadores incorrem noutro erro, indicando que Pinzón teria chegado ao pontal de Mucuripe, no Ceará, a 26 de janeiro de 1500.
Os deputados Eduardo Campos (PSB-PE), Fernando Ferro (PT-PE) e Feu Rosa (PSDB-ES) apresentaram os Projetos de Lei nº 5.326/2001, 5.292/2001 e 6497/02, propondo a correção dos registros historicos do descobrimento do Brasil, para reconhecer a primazia de Pinzón no descobrimento do Brasil. Todavia o voto do Relator Deputado Rogerio Teofilo (PSDB-AL), na presidencia da Comissão de Educação e Cultura, sepultou as aspirações nesse sentido ao votar pelo arquivamento dos projetos reunidos.
segunda-feira, 1 de março de 2010
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