sexta-feira, 5 de novembro de 2010
1516 A FEITORIA DE ITAMARACÁ EM PERNAMBUCO
1516 A FEITORIA DE ITAMARACÁ EM PERNAMBUCO
Francisco Bonato Pereira
A primeira estrutura de defesa do litoral da Terra de Santa Cruz (Brasil) e de presença permanentes dos portugueses foi uma uma feitoria construida por Cristovão Jacques na margem direita da foz do rio Igaraçu, quando da sua primeira expedição à costa brasileira (1516-1519). A feitoria era uma fortaleza rústica, com cerca de pau-a-pique, para proteção dos portugueses que ali se abrigavam. (AVELLAR, 1976:55; BUENO, 1998:57; BUENO, 1999:197).
O navegador Cristovão Jacques recebeu do Rei D. Manoel a incumbência de guarnecer a costa do Brasil e de expulsar corsários franceses que negoci-avam com os nativos na costa do Brasil e retiravam grandes quantidades de pau brasil. Cristovão Jacques edificou a feitoria real na Ilha de Itamaracá, situada a 07º48’7” longitude sul e 34º53’20,8” longitude oeste
Encontramos referências nas Cartas de Doação de D. João III (1521-1557): (a) em favor de Pero Lopes de Sousa, ao determinar a colocação de um padrão a dez passos da casa de feitoria que "de princípio fez Christovão Jaques pelo rio dentro, ao longo da praia"; e (b) em favor de Duarte Coelho Pereira, em 10 de Março de 1534: "Cristovão Jaques fez a primeira casa de minha feitoria e a cinqüenta passos da dita casa da feitorya pelo rio a dentro ao longo da praya." (CASTRO, 1940:130).
As razões da instalação feitoria de Pernambuco foram: (a) a melhor qualidade do pau-brasil do litoral nordeste do Brasil; (b) a descoberta por estrangeiros daquela feitoria, com a conseqüente perda de lucratividade; (c) uma economia de cerca de dois meses na viagem (BUENO, 1998:127-128).
Na segunda expedição (1521-1522), Cristóvão Jaques, ao retornar do rio de Santa Maria (rio da Prata) rumo a Lisboa, carregou suas caravelas com pau-brasil na feito-ria de Pernambuco, onde desterrou o piloto português Jorge Gomes por desenten-dimentos (BUENO, 1998:138).
A armada de Sebastião Cabot(1526)alí se abrigou do mau tempo entre Junho e Setem-bro de 1526 e foi ali que o piloto Jorge Gomes descreveu a Cabot as riquezas do rio da Prata e depois o conduziu ao porto dos Patos, sul da ilha de Santa Catarina. Em Itamaracá, ao ouvir a mesma versão acerca das riquezas do rio da Prata, Cabot desis-tiu do objetivo original (arquipélago das Molucas) para se dirigir ao rio da Prata (BUENO, 1998:147-148).
Cristóvão Jaques, na terceira expedição (1526-1528) aportou na feitoria de Per-nambuco em maio de 1527, onde foi informado pelo náufrago espanhol D. Rodrigo de Acuña, da expedição francêsa de Jofre de Loyassa às ilhas Molucas, com quatro navios (1527). Cristóvão Jaques encontrou os franceses na Baia de Todos os Santos, carregados de pau-brasil, em fins de Junho e os surpreendeu, matando e aprisionando centenas de franceses. (BUENO, 1998:151).
A feitoria de Pernambuco abrigou os feridos da caravelas de Pero Lopes de Sousa, quando combateu e capturou duas naus francesas ao Sul do do Cabo de Santo Gostinho: 19 de fevereiro de 1531 - (...) e mandou [o Capitão irmão, Martim Afonso de Sousa] levar todos os doentes a uma casa de feitoria que aí estava. (...)." (CASTRO, 1940:138-139)
No mesmo mes os portugueses partiram dali, numa das naus capturadas aos fran-ceses, carregada com setenta toneladas de pau-brasil e trinta prisioneiros norman-dos, comandada por João de Souza e as duas caravelas se dirigiram à exploração do rio Maranón (Rosa e Princesa, sob o comando de Diogo Leite) e o restante da expe-dição se dirigiu para o rio da Prata (BUENO, 1998:169).
Em decorrencia da apreensão dos navios franceses (junho 1527) na costa da Bahia, a feitoria real portuguesa no rio Iguaraçu foi bombardeada e conquistada pela nau La Pelerine (março de 1531), que zarpara do porto de Marselha para a costa do Brasil em Dezembro de 1530, sob o comando do Capitão Jean Dupéret, transportando 120 homens, 18 canhões, munição e material de construção, em missão "militar, comercial, agrícola e feitorial". A feitoria ocupada pelo feitor Diogo Dias e mais cinco portugueses, junto com algumas dezenas de nativos, resistiu durante dois dias ao assédio francês. Em inferioridade numérica, foi assinado o termo de rendição da feitoria e mediante o pagamento de 400 ducados, os portugueses se comprometeram a auxiliar os franceses a erguer nova fortaleza para substituir a feitoria arrasada pela artilharia (BUENO, 1998: 107-108). A nova feitoria foi erguida, não na margem direita da foz do rio Igaraçu, mas na ilha de Itamaracá (BUENO, 1999:197). Segundo CASTRO (1940) o forte teria custado 4.000 ducados, tendo os portugueses nele trabalhado na condição de cativos.
A La Pèlerine zarpou de Itamaracá para Marselha em Junho de 1531,deixando a nova fortificação guarnecida por setenta homens. A nau foi aprisio-nada por um navio portugues no mar Mediterrâneo, ao largo de Malaga, na Espanha, em Setembro de 1531, sendo apreendido em seus porões quinze mil toras de pau-brasil (300 toneladas), três mil peles de onça, 600 papagaios, 300 quintais de algodão (1,8 tonelada), óleos medicinais, sementes de algodão e amostras minerais (BUENO, 1998:108-109).
O fortim, erguido na ilha de Itamaracá, rebatizada como Ile Saint Alexis, sob o comando do Capitão Senhor de La Motte (Carta de D. João III a Martim Afonso de Sou-sa, em 28 de Setembro de 1532. apud: CASTRO, 1940:384-385), foi atacado e destruído após um cerco de dezoito dias, por Pero Lopes de Sousa, quando do retorno de São Vicente a Portugal (agosto a novembro de 1532), reergueu a antiga feitoria à margem direita da foz do Rio Igaraçu, mantendo o forte francês na Ilha de Itamaracá, guarnecido por alguns homens sob o comando de Francisco Braga (BUENO, 1998:181; BUENO, 1999:197).
A Caravela Espera aportou (1533) na feitoria de Itamaracá, trazendo Paulo Nunes, substituto do feitor Vicente Martins Ferreira. Na ocasião, tomou posse do Cargo de Condestável do forte Cristóvão Franco e seria rebaixado ao de bombardeiro, Diogo Vaz (Carta de D. João III, de 10 de fevereiro de 1533 apud: CASTRO, 1940).
As feitorias de Igaraçu e da Ilha de Itamaracá deram origem a povoações ainda no Seculo XVI. Depois da fundação da povoaçao de Olinda, por Duarte Coelho Pereira, a povoação junto à foz do rio Igaraçu passou a ser conhecida como Pernambuco Velho (CASTRO, 1940). As pesquisas arqueológicas no sítio da feitoria real foram iniciadas na década de 1960, depois que uma ressaca descobriu vestígios de antigos muros de pedra. Durante um mês, em 1968, sob a direção do Professor Marcos Albuquerque, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foram identificados restos de cerâmica indígena e européia, pregos, facas e balas de arcabuz, bem como alicerces de pedra argamas-sada (RAJÃO, 1969:94-111).
Cristovão Jacques, navegador português. Comandante das expedições iniciais de vigilância da costa brasileira, é o primeiro a propor o povoamento do país por Por-tugal. Cristóvão Jacques (1480-1530) nasceu no Algarve, filho bastardo do nobre Pero Jacques, legitimado por dom João II e, recebeu de Dom Manuel o título de fidalgo da Casa Real. Veio ao Brasil pela primeira vez em 1503, na frota do explorador Gonçalo Coelho. Entre 1516 e 1519 percorreu a costa brasileira no comandando duas caravelas para proteger o território das investidas dos franceses que, desde 1504, contraban-deavam pau-brasil. Fundou, em 1521, a feitoria de Itamaracá, em Pernambuco, e seguiu para o sul, até o rio da Prata, retornando em seguida a Portugal. Após receber denún-cias de que navios corsários franceses estavam a caminho do Brasil, dom João III convoca Cristóvão Jacques, que viaja em 1526 com outra expedição de defesa da colô-nia. Antes de partir, recebe o título de governador das partes do Brasil, respon-sável pelos diversos aldeamentos espalhados pelo litoral brasileiro e quase não mantêm comunicação entre si. Localizou os corsários na Bahia, onde travou sangrento combate. Informado das brutalidades cometidas pelas tropas de Jacques, que matam todos os franceses, Dom João III o destitui e determinou seu imediato regresso a Portugal. O navegador tenta convencer o rei de que a única maneira de garantir a posse da terra e acabar com o contrabando é iniciar a colonização. Oferece-se para começar a ocupação, mas sua proposta não é aceita. As repercussões negativas da batalha no Brasil fazem-no perder prestígio em Portugal, onde morre no esquecimento.
Referência
• AVELLAR, Hélio de Alcântara. História administrativa e econômica do Brasil (2ª ed.). Rio de Janeiro: FENAME, 1976. 432 p. il.
• BUENO, Eduardo. Náufragos, traficantes e degredados: as primeiras expedições ao Brasil, 1500-1531. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. 204p. il. ISBN 8573022167
• BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. 288p. il. ISBN 8573022523
• CASTRO, Eugênio de (Cmte.). Diário da Navegação de Pero Lopes de Sousa (1530-1532): estudo crítico (2 vol., 2ª. ed.). Rio de Janeiro: Comissão Brasileira dos Centenários Portugueses de 1940, 1940.
• MELLO, José Antônio Gonsalves de. A feitoria de Pernambuco (1516-35) e o Reduto dos Marcos (1646-54). RIHGB, vol. 287, Abril-Junho de 1970. p. 468-478.
• RAJÃO, Alberto. A conquista do litoral. Enciclopédia Bloch. Ano 3, nr. 29, set/1969. p. 94-111.
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